segunda-feira, 25 de março de 2013

PRIMEIRA COMUNHÃO ( Rafael Maniçoba )

Poesia que fará parte do meu novo livro!

A mesa repleta de domingo,
Um sol matinal de dezembro,
Os ventos nas leves batinas,
Os bordados nos vestidos das meninas
E nas alvas fitas dos cabelos.

O iluminar das candeias nas pálpebras,
Os castiçais de prata, os cibórios dourados,
O anseio do pão nunca saboreado
Exalava no altar transubstanciado,
E o facho de luz que atravessava os vitrais.

Um adeus à professorinha,
Que nos incitava a perdoar,
Mas restou a todos um ceticismo,
Do que falara no catecismo,
Descemos do altar, e a vida nos tornou grandes demais.

CASA ABANDONADA ( Francisco Bugalho )


Minha saudade não larga
Certa casa abandonada.
E sinto, na boca, amarga,
Essa lágrima chorada
Quando a deixei...

Caía, de leve, a tarde...
E, olhando para trás, vi
Aquela porta fechada.

Nesse momento, senti
Pesar-me a fatalidade
De toda a Vida passada.

Arde
Ainda, nos meus olhos,
A luz do sol que brilhava
Na janela.
Era uma luz amarela;
Uma luz de fim da tarde
Que ainda trago nos olhos...

Ficava ali,
Por detrás da porta verde,
Tudo o que a vida nos perde,
Enquanto nos vai gastando...

E triste e só me parti;
Quem sabe que outros Destinos,
Dolorosos ou divinos,
Procurando...

CASA DA VOVÓ ( Ana Canéo )


Chega de tanta injustiça
de castigo e confusão!
Vou pra casa da vovó,
não tem outra solução!

Estou mesmo decidido
e pra sempre eu me mudo.
Aqui eu não posso nada
e por lá eu posso tudo!

Posso comer chocolate,
posso até me empanturrar.
Posso comer sobremesa
até antes do jantar.

Mesmo que eu faça bagunça,
vovó não briga comigo.
Se eu beliscar o irmãozinho,
vovó não me põe de castigo!

Vou fazer a minha mala,
meu carrinho eu vou levar.
Vou levar o meu cachorro
e o meu jogo de armar.

Vou levar meu travesseiro,
levo também meu pião,
pego os meus livros de história
e o meu time de botão.

Levo as coisas que eu gosto,
pra ter tudo sempre a mão:
levo também o papai,
a mamãe e o meu irmão!