domingo, 6 de novembro de 2011

CRÔNICA: A curta manhã ( Rafael Maniçoba )

Aquele não seria um dia comum para ele. Poderia começar com seu despertador disparado e o barulho dos carros que, do alto do seu apartamento, ouvia todas as manhãs; onde cedo acordava e num rápido café resumia os sonhos da noite passada. A manhã começara mais cedo naquele dia, depois de uma longa sentinela numa noite interminável e fria, que do seu quarto acalentou a sentir o vento bater no rosto molhado de lágrimas e a preencher um lugar onde a embriaguez de alguns goles lhe fez companhia toda a madrugada. Mas, no seu chão molhado e a cama mergulhada num desespero antigo, não viu um lugar para sair e enfrentar mais um dia da solitária vida que levava.           
Os papeis rasgados e embolados que se amontoavam no chão do quarto, mostravam angústias que desabafara a noite inteira. Num retroceder, anulava um sentimento e outro vinha à tona, eles afloraram para o momento que seria a maior aventura da sua vida. Apenas uma carta permaneceu intacta, talvez a que resumisse tudo o que as outras destruídas abrigasse.
O mundo lá fora lhe aguardou para mais uma carreira, mas aquela seria a manhã onde seus sonhos se perderam num moinho onde nada mais poderia se resgatar. Naquela manhã seus olhos se perdiam ao olhar o mundo, onde o sol desabrochava na janela, contemplava um passado e avistava caminhos onde poderia cruzar; mas o ponto de sua vida estava por se concretizar. Já desligando a TV e ouvido a música que lhe transportava desse mundo para o seu, avistou na parede seus retratos e a memória das jornadas de um viver que chegou ao fim. Um vento diferente em seu rosto bateu ao encostar na janela aberta, um soluço ainda ouviu e com seus braços abertos abraçou a liberdade, um pássaro ferido se tornou, sem conseguir abrir as asas. E num momento rápido a desafiar a gravidade, numa câmera lenta, se passaram os dias que tentou expulsar uma melancolia, mas o venceu. Sua viagem rápida era
terminada. E a rua que lhe era estranha não mais observada, apenas jazia no chão com seus sonhos e ilusões destruídos.

Autor: Rafael Maniçoba

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